sábado, 31 de outubro de 2015

Não entres docilmente nessa noite serena...





Não entres docilmente nessa noite serena,

porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;

odeia, odeia a luz que começa a morrer.



No fim, ainda que os sábios aceitem as trevas,

porque se esgotou o raio nas suas palavras, eles

não entram docilmente nessa noite serena.



Homens bons que clamaram, ao passar a última onda, como podia

o brilho das suas frágeis ações ter dançado na baia verde,

odiai, odiai a luz que começa a morrer.



E os loucos que colheram e cantaram o vôo do sol

e aprenderam, muito tarde, como o feriram no seu caminho,

não entram docilmente nessa noite serena.



Junto da morte, homens graves que vedes com um olhar que cega

quanto os olhos cegos fulgiriam como meteoros e seriam alegres,

odiai, odiai a luz que começa a morrer.



E de longe, meu pai, peço-te que nessa altura sombria

venhas beijar ou amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas.

Não entres docilmente nessa noite serena.

Odeia, odeia a luz que começa a morrer.



Dylan Thomas

Tradução: Fernando Guimarães




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