sexta-feira, 27 de março de 2009

Frase


"Em coisas insignificantes é que um verdadeiro amigo se avalia"


Camilo Castelo Branco

Filme: As Aventuras de Chatran




"O filme que nos ensina o verdadeiro sentido de amor e amizade"

Infantil. Chatran é um pequeno e irrequieto gato amarelo que vive com os irmãos num rancho no norte do Japão. Numa tarde em que brincava com o cachorro Puski, foi se esconder numa caixa à beira de um rio e acabou sendo carregado pela correnteza. Aí tem início uma jornada com direito a quedas dágua, ursos, cobras, chuvas, fome, abutres, buracos, guaxinins e raposas, enquanto Puski vem correndo pela floresta à sua procura. O filme irá acompanhar o crescimento do bicho e as relações estabelecidas entre os seres vivos e a natureza, que tanto podem alternar a doçura e o companheirismo quanto a agressão. "Cada criança tem sua própria história", diz o narrador na introdução dessa pequena jóia de naturalismo cinematográfico (no original, " Koneko Monogatari") , tão formalmente distante de filmes como Benji ou Babe, o Porquinho Atrapalhado quanto geograficamente estão Japão e EUA. Realizado pelo zoólogo e escritor Masanori Hata, dono de uma reserva particular de quase 300 animais, o filme é um desconcertante exemplo de sensibilidade e observação, sem espaço para maniqueísmos por mais que sua linguagem se dirija diretamente ao público infantil. Decerto porque a câmera de Hata tem a curiosidade de um adulto, e através de uma fotografia excepcional obtém não apenas belas imagens (closes e paisagens que não deixam nada a dever aos documentários da TV), mas flagra momentos inesperados que chegam mesmo a ser cruéis com os pequenos "atores". Numa hora Chatran é ferroado na boca por um enorme caranguejo; noutra, um filhote de urso quase afoga o coitado do cãozinho Puski numa suposta briga no rio.

Mas o filme, em sua maioria, constitui-se de encantamento e diversão. Chatran é um gato sapeca e irresistível que dá vontade de ter um igual em casa, e as expressões de Puski arrancam fácil um sorriso da cara do espectador. Quando não está sofrendo o diabo, o gato está brincando com o cão, ou fazendo amigos entre porquinhos (com quem chega até a dividir as tetas da mãe porca), roubando comida de uma raposa ou adormecendo preguiçosamente no mato ou no ninho de uma coruja. Ou, ainda, pulando entre campos de algodão e correndo pela linha do trem. Além do gato, o que o filme tem de bom é a ausência de homens na história. A presença humana está por lá, sugerida nas fazendas, no trem que passa, na cabana onde Chatran se esconde do urso. Mas o bicho homem mesmo não aparece, como se sua interferência fosse atrapalhar o rito de passagem por que o gato tem de passar até chegar ao milagre da vida e da continuidade da espécie, através do acasalamento e da reprodução.

Fé & Justiça


"Como posso perder minha fé na justiça da vida,
quando os sonhos dos que dormem num colchão de penas
não são mais belos do que os sonhos
dos que dormem no chão"